sábado, 30 de maio de 2009

A ESPOSA



Na nossa sociedade atual (burguesa, capitalista, pós-moderna, o que seja...) quase não se vêem mais casamentos por obrigação. Salvo raras e exóticas exceções, não há leis, pais, padres, armas na cabeça do noivo, ou barrigas crescendo, que sejam obrigatoriedade real de casamento.
Na prática, casamos porque queremos. Porque assim decidimos. E porque decidimos, se não há ninguém obrigando, ou mesmo incentivando, nesse mundo cultuador de relações tão efêmeras? Escolher uma única pessoa, entre tantas, pra ser sócio de cada minuto de sua vida. Que loucura, não? Quem nos obriga? Acho que nós mesmos. Nossa consciência, nossos valores, nossas culpas e sobretudo (é o meu caso) nossos sonhos de felicidade eterna, nossos encantamentos mútuos, a que chamamos de amor.
Nos casamos porque queremos ser a princesa da qual mamãe falava antes de dormirmos. E queremos o príncipe dos contos, dos filmes, das novelas da Rede Globo. Mas guardadas as delícias do sonho no álbum de retrato, o que é a vida do príncipe e da princesa no dia-a-dia? Acho que é uma aventura. Acho que é uma aliança. Acho que é a reedição do Édipo...


Queremos um príncipe que nos proteja dos perigos, mas ganhamos um filho que precisa de nossa orientação e aprovação, para o qual precisamos explicar objetivamente o que queremos (afinal, os homens são muito objetivos). Se passamos o dia lembrando que acabou o sabão em pó e os pedimos para ir até o mercado comprar leite, eles só trarão leite. “Mas você não disse, - Compre sabão em pó!”. É verdade, ele tem razão: você não disse... Meninos de 5 anos ainda não conseguem fazer este tipo de relação mental: falta=necessidade. Ou será que conseguem? Bem, não sou especialista em Psicologia do Desenvolvimento Infantil, portanto não tenho certeza se os meninos conseguem. Só sei que as meninas sim...
A verdade é que os homens tão fortes e tão belos guerreiros, no interior da relação, são mesmo meninos. Não fazem nada sem que a gente diga, mesmo que seja tão sutilmente, que os faz pensarem serem eles mesmos os autores de tais pensamentos.
Ao mesmo tempo, imagino eu que eles se casam, esperando acordar todos os dias ao lado da princesa sorridente e perfumada. Mas o que encontram muitas vezes, é uma jovem versão de nossas mães, e o que é pior: com cabelos desgrenhados, só de calça jeans e sutian, com um bebê pendurado ao peito, reclamando que não tem um sapato adequado, esbravejando impropérios e lançando culpas veladas aos quatro ventos, enquanto escolhe uma blusa para o jeans e essa “porcaria de sapato que me machuca”. A bruxa esquenta o leite, e faz uma lista mental de tudo o que precisa ser levado ao carro (levado pelo homem, é claro, porque com o bebê no colo e esses sapatos... ah, homem é pra isso mesmo!) em mais um dia de atrasos azedos para os seus compromissos. E antes de sair, um check up geral de si mesma no espelho, um no bebê, um na bolsa do bebê, na sua, na casa, no pote de comida e água dos cachorros, nas trancas da casa, no gás, tomadas e é claro... no look do marido (Por eles, usariam a camisa do time todos os dias, do trabalho ao lazer, do futebol, direto para aquele jantar chic na casa daquela amiga rica). É, nem todos os dias são de beijinhos no happy end...
Mas a gente casa mesmo, acho que é pra ter companhia, pra ter um sócio nas agruras da vida. E acaba gostando tanto de partilhar, que às vezes penso, o que seria de mim sem ter um homem-menino pra ensinar a se vestir. Eu perderia a oportunidade do riso, quando ele vem pra mim, com aquele olhar de 5 anos e pergunta se esta camisa está adequada para a ocasião. Eu não teria oportunidade de me sentir uma especialista em moda (coisa que não sou), ao indicar o absurdo da escolha e a satisfação em vê-lo voltar lindo para a sala e dizer: Agora sim! O que seriam dos meus ataques de stress, se não houvesse alguém pra aturá-los e depois dizer: “Vá descansar, deixa que eu arrumo isso”, ou “Você fica linda nervosa”. Ao contrário do que se pensa, não é aí que volto a ser princesa, mas é exatamente então, que percebo a sapa que estou sendo.
Companheiro. Acompanhar é isso, acho que a gente casa pra ter alguém pra acompanhar o desenvolvimento como ser humano, pra nos acompanhar aqueles lugares de nossa alma, que a gente acreditava inabitáveis. Esse é o grande sonho se realizando no dia-a-dia: Ter uma companhia, pra observar o espetáculo de sua vida tão de perto, que nunca mais uma lágrima será derramada sem platéia de pelo menos um, e nenhuma vitória - por pequenina que seja - deixará de ser aplaudida. Pra precisar tanto de você, te tornando alguém tão essencial, que não dá nem pra pensar em entrar em depressão. Poder parar para sofrer, hoje é um luxo pra mim...


E mesmo assim, ao final do dia, o príncipe, a princesa, o sapo e a sapa, se olharem nos olhos e dizerem um ao outro:
“Que amanhã comece tudo de novo! Porque eu sei que você vai estar lá!”

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A MÃE



Desde que me entendo por gente, sempre quis ser mãe.
Mesmo quando “mãe” ainda era um conceito muito concreto de proteção e abrigo, mesmo quando essa palavra representava ser o mundo todo, para uma boneca que não tinha vida, senão através do meu poder de imaginação.
Hoje vejo, que não é muito diferente do que eu pensava. Sou mesmo, um conceito muito concreto para minha filha: para ela, eu sou o colo, o leite, o aconchego, o abrigo, a proteção, o sorriso e o amor.
Sou o seu mundo, que se expande, tanto quanto suas pupilas negras e luminosas, quando começo a cantar, e minha voz ressoa pelo corredor de casa, pelo corredor de seu olhar atento.
E ela, é a vida que nasceu do meu desejo, de todas as minhas imaginações.
Desde quando eu batizava as bonecas e escolhia seus nomes com cuidado, era a idéia maravilhosa de uma filha em semente, que eu batizava.
Desde quando prometi que quando crescesse, não importava quão adulta e ocupada eu ficasse, brincaria de Barbie com minha filha (com aquela Barbie que minha mãe nunca pode me comprar).
E assim minha filha foi sendo gerada, em todas as vezes em que me aborrecia com minha mãe, e pensava: “quando tiver minha filha, nunca vou fazer isto”. Em todas as vezes em que via despretensiosa, sentada no shopping, uma frágil mulher, que ao grito de “mãe”, metamorfoseava-se subitamente, em uma heroína poderosa, para aquele pequenino ser que a chamava.
Era esse o poder que eu almejava. Da leoa, que salta na frente da fera, pra defender o filhote.
É ela quem ruge dentro de mim, quando instintivamente, abraço minha filha de encontro ao peito, ao ouvir um estrondo, na esperança inconsciente de que, caso um desastre – as mães sempre antecedendo os desastres – meu corpo possa ser sacrificado em troca do seu, tão frágil.
É essa leoa, que sai correndo do compromisso, antes mesmo que ele termine, pra evitar que no desespero, a mamadeira nos prive – mãe e filha – de sermos uma só.
E aí, é o peito, o leite morno, o colo macio, a fala mansa, o olho no olho, é o sorriso de dois dentinhos com "bigode" branco, é o renascer, o momento mágico do médico dizendo: “sua filha nasceu”, mais e mais uma vez.
Sempre me disseram, que ser mãe não era fácil. Eu concordo. Pois uma mãe, vivencia, ao longo de sua jornada materna, todas as dores físicas que podem existir, mais as dores do espírito feminino, do medo, da dúvida, da insegurança, da saudade, da separação. Mas ninguém nunca havia me dito, que cada dor é recompensada, i-men-sa-men-te, de uma forma, tão simples e tão grandiosa... que me perdoem, mas só as mães poderão me compreender aqui, neste trecho.
É o mistério, que a gente não sabe explicar, como aquele cheirinho de bebê que te acompanha, ao longo do dia, como alucinação olfativa (que cheirinho incrível é aquele, por que os filhos de outras mães, não tem um cheiro como este?!), mesmo na aula, no trabalho, na distância, nos caminhos desconhecidos, nos abismos de minha alma... enquanto eu não me perder desse cheiro, nunca me perderei da Vida!

domingo, 26 de abril de 2009

INTRODUÇÃO


Todo mundo quer ser alguém na vida...

Mas na verdade, vivemos em busca de ser
nós mesmos.
E pra chegar lá, temos que ser vários,
temos que ser muitos.
Ser quem se realmente é... este é um desafio diário.
Busco ser EU, mas busco também ser ela – A Mãe
Ser aquela – A Esposa
Ser essa – A Filha
Ser esta – A Profissional
A outra – A Mulher
E todas as muitas, que temos que ser,
pra no fim das contas... ser alguém na vida.